O Jardim Zoológico encontra-se em um verdadeiro estado de abandono e com poucos animais devido a falhas sistemáticas de administração daquele espaço que já foi uma das maiores referências turísticas da Cidade de Maputo.
A urbanização é, muitas vezes, acompanhada pela destruição de espaços verdes onde animais selvagens podem sobrevier com maior independência. Na cidade de Maputo, o Jardim Zoológico é uma das referências turísticas que está a desaparecer aos bocados devido à acção do ser humano. Os 90 hectares de floresta que faziam parte do jardim foram invadidos por casas habitacionais.
Antecedentes históricos
Fundado em 1929, por um grupo de veterinários portugueses, o Jardim Zoológico marcou a vida das gerações do período anterior e imediatamente posterior à independência nacional. Foi um lugar que mereceu importantes visitas de governantes coloniais e, por assim dizer, todos os caminhos chegavam àquele lugar que, hoje, se apresenta em decadência.
A independência de Moçambique culminou com a expulsão da administração colonial portuguesa e todas as infra-estruturas no País passaram para a gestão dos moçambicanos. Após a independência, parte do Jardim foi destruída devido à ocupação desordenada por parte da população, sobretudo nos anos 80, com a intensificação da guerra civil entre a Renamo e o Governo de Moçambique.
Escassez de visitas e a nova divisão administrativa
O chefe da unidade do Jardim Zoológico, Paulino Nhachengo, justifica que, desde a independência, o Jardim continua a enfrentar um “grave problema de falta de manutenção”, que está a resultar em mortes de parte dos animais que são a maior fonte de atracção para visitantes.
“Sem visitantes, as finanças para gestão vêm ficando cada vez mais escassas. Aliás, as mudanças havidas após a independência foram a maior causa para o actual estado do Jardim. Quando a Associação Veterinária Portuguesa (AVP), que fundou o Jardim em 1929, passou a responsabilidade de gestão do espaço às autoridades moçambicanas, as dificuldades de manutenção começaram a surgir” – contou Paulino Nhachengo acrescentando – “Depois da saída da AVP, Moçambique ficou 30 anos a fazer a gestão do Jardim. Após isso, a Associação do Jardim Zoológico de Moçambique (AJZM) assinou um memorando com o Conselho Municipal da Cidade de Maputo (CMCM), no qual foi instituído que a gestão devia ser dupla, que a área dos animais ficava a cargo da AJZM e ao CMCM caberia a parte de jardinagem”, explicou Paulino Nhachengo.
Há anos, a visita ao jardim era feita mediante o pagamento de 1 metical, hoje, as entradas custam 5 meticais por pessoa, mas uma vez que o espaço turístico recebe um número insignificante de visitantes, o valor obtido das visitas não serve para fazer muita coisa. O resultado que se obtém é devastador. Quando o Jardim foi aberto ao público pela primeira vez, este tinha vários funcionários e contava com inúmeros animais, desde rinocerontes, hipopótamos, búfalos, elefantes, antílopes, leões e chipanzés. Hoje, a gestão é mantida por 13 funcionários que cuidam de um total de 41 animais, entre os quais três crocodilos, uma cobra, pequenos macacos e poucas aves.
Saúde precária dos animais
Grande parte dos animais que ainda estão no jardim, principalmente os macacos, apresentam-se magros, desnutridos, despenados e com aparência de padecerem de várias doenças, mas segundo Paulino Nhachengo aqueles animais não estão doentes. “Estão a enfrentar problemas de nutrição, porque os alimentos para os animais estão cada vez mais escassos”, justificou a fonte acrescentando que, para encontrar alimentos para os bichos, o Jardim, de vez em quando, recebe camiões de restos de comida, ou de produtos putrificados, de vários supermercados da Cidade de Maputo.
Informações dão conta de que a comida dos supermercados, que chega ao Jardim Zoológico, resulta do trabalho que a AJZM está a fazer. Nossa tentativa de entrevistar o presidente da associação, Daúde Carimo, resultaram em fracasso. A última entrevista, de que o jornal O Campo teve acesso, em que Daúde Carimo fala à imprensa, data de 14 de Setembro de 2018.
Tentativas de revitalização resultam em fracasso
Em um dos seus discursos à imprensa, registado em 2012, Daúde Carimo dizia que, no Jardim, “algumas espécies como antílopes, zebras, galinhas e outros animais dos quais o homem se alimenta foram roubados por residentes que usam o Jardim como travessia”. Para resolver o problema, já se havia avançado com a vedação de uma área de 300 metros que seria concluída até finais do mesmo ano.
Naquele ano, perspectivava-se um futuro risonho para o Jardim. “Acreditamos que, num futuro próximo, conseguiremos ampliar e modernizar o espaço, adequando-o aos padrões internacionais exigidos”, dizia Carimo num período em que se tornou público que as obras de reabilitação do Jardim estavam orçadas em mais de três milhões de dólares norte-americanos e, para o repovoamento e assistência veterinária aos animais, contava-se com apoio dos parques de Joanesburgo e Pretória, da África do Sul.
Já em 2018, citado pelo Portal do Governo, Daúde Carimo justificava que “boa parte dos animais de grande porte morreu de fome e falta de tratamento, excepto os que não necessitam de cuidados especiais” e continuava a informar ao público que havia um plano de “reconstruir o parque infantil, sala de teatro e cinema, recinto dos crocodilos, área de reserva com reflorestamento e espécies nativas”, espaços estes que estão dentro do Jardim Zoológico.
Seja o conjunto de antecedentes históricos, a dupla administração ou a fracassada tentativa de revitalização, a verdade é que, até Fevereiro de 2022, “nem animal vinha nem animal ia”. O Jardim Zoológico continua degradado e despovoado. A má nutrição que os animais que lá sobrevivem criam desprazer em apreciar, mas o local continua aberto para visitas, das nove às 16 horas. Tem um parque de estacionamento privado para visitantes e um campo polivalente, para a prática de jogos.