Em 2020, um total de nove mil pessoas juntaram-se à lista dos 160 mil infectados pelo HIV na província de Cabo Delgado, facto que está a deixar o governo local apreensivo.

Crescem os casos de desigualdades baseadas no género em Cabo Delgado, o que está a dificultar o combate contra o HIV. Segundo dados anunciados pelo secretário de Estado em Cabo Delgado, António Supeia, a SIDA continua a preocupar o Ministério da Saúde (MISAU) e o grande obstáculo no combate contra a doença continua sendo as diversas formas de desigualdade baseadas no género.

A fonte entende que a desigualdade limita o acesso a educação das mulheres que, muitas vezes, são excluídas no processo de tomada da decisão em relação aos assuntos das comunidades onde vivem. “Hoje, o mundo, o País e a província enfrentam a pandemia da COVID-19 e outras doenças degenerativas negligenciadas. Por isso, somos todos chamados a unir esforços para uma maior prevenção dessas doenças através do corte das suas cadeias de transmissão”, adicionou António Supeia.

Com uma taxa de soroprevalência de 13.8 porcento, em 2021, Cabo Delgado testou 424 mil e 799 pessoas, representando um aumento em 53 porcento, o que resultou num acréscimo de casos positivos em 24.3 porcento, mesmo assim, a taxa de positividade manteve-se inalterável. No mesmo período, 18 mil e 492 pessoas iniciaram o tratamento com o antirretroviral, perfazendo 94 mil e 594 pacientes, dos quais cinco mil e 675 são crianças. Tendo arrolado estes dados, António Supeia lembrou-se das obrigações do Estado. ‘‘O Estado tem a responsabilidade de continuar a providenciar o tratamento gratuito a todos os cidadãos. Queremos a melhoria da vida das pessoas que vivem com o HIV e a redução das infecções’’, disse Supeia.

Segundo o governador da província de Cabo Delgado, Valige Tauabo, a reflexão sobre a incidência do HIV/SIDA é importante porque só assim se pode encontrar estratégias para a melhoria dos programas de acção de resposta contra esta enfermidade epidémica mundialmente disseminada.

“ O combate contra esta pandemia requer acções coordenadas e compromissos de todos, governo, sociedade civil, confissões religiosas, líderes a vários níveis, entre outras entidades. É preciso haver solidariedade, compaixão e tolerância para com as pessoas que vivem com HIV/SIDA. Não devem medir esforços no aconselhamento permanente da população para observância do protocolo de prevenção da doença. Se procedermos deste modo, havemos de reduzir a propagação do vírus e conseguiremos baixar os índices de soroprevalência’’, disse Tauabo.

Saviana Camilo, de 40 anos de idade, testou positivo em 2007 e é mãe de quatro filhos. Uma das principais dificuldades que a mulher enfrentou, no princípio, foi o receio de contar ao marido e perder o casamento. ‘‘Mas tive coragem de comunicar à minha irmã. Dois meses depois, revelei ao meu marido porque senti pressão nas recomendações médicas’’, disse Saviana Camilo, cujos filhos nasceram livres do HIV.

Refira-se que, em 2021, foram lançadas em Cabo Delgado duas campanhas de saúde com o objectivo de melhorar a adesão ao tratamento dos pacientes com o HIV/SIDA e reduzir o estigma e a discriminação associados ao HIV. As campanhas visavam também fortalecer a retenção e adesão ao tratamento, principalmente na camada homens.