As autoridades governamentais no distrito de Homoíne, na província de Inhambane, estão a dinamizar as actividades de produção pecuária e de processamento de diversos produtos, através de pequenos projectos que envolvem unidades industriais de geração de renda e emprego para adolescentes e jovens.

Na sua maioria, os projectos empregam jovens e adolescentes de 16 a 35 anos de idade que trabalham em moinhos, poedeiras e capoeiras de criação de frango de corte. Segundo o director do Serviço Distrital de Actividades Económicas (SDAE) em Homoíne, António Sabão, o distrito tem, actualmente, um grupo de 67 criadores de frango. “Há anos, tínhamos 60 criadores, mas agora temos 67. Este grupo está organizado em associação de avicultores que produzem frango de corte, vendido dentro e fora do distrito’’, disse a fonte.
Com uma produção média mensal que varia entre 500 e 600 frangos, o distrito de Homoíne tem uma capacidade instalada para produzir pelo menos dois mil bicos de frango de corte mensalmente.
“São 67 criadores e cada um tem capacidade de 600 a mil. Temos também criadores que são capazes de criar até dois mil pintos, mas não estão a aproveitar isso, porque eles fazem uma gestão em função do mercado. Os nossos avicultores aumentam a produção especialmente antes das festividades porque sabem que, em momentos como aqueles, a procura por frango é maior”, contou António Sabão.

António Sabão, director do SDAE em Homoíne.

De acordo com o director do SDAE em Homoíne, há uma timidez na produção de frango em larga escala, justificada pela falta de investidores que comprem o frango em grandes quantidades ou instalem um matadouro específico para processamento do frango e seus derivados. “Se existisse uma unidade de processamento de frango, ou seja, de abate e conservação em massa, acreditamos que teríamos a capacidade de produção triplicaria”, disse Sabão. Uma nota indica que Homoíne tem pelo menos nove mil criadores de animais, seis mil dos quais se dedicam à criação de gado bovino.

Empresa familiar quer produzir dois mil frangos por lote

A pequena empresa familiar PAMEL AGRO-NEGÓCIOS, que opera no bairro Malonguele desde 2019, colocou-se recentemente no desafio de criar, no mínimo, dois mil e 500 frangos de corte por lote.
Na primeira fase de implementação do projecto, a empresa investiu dois milhões e 200 meticais, usados na implantação das infra-estruturas de criação de frango, nomeadamente, cinco capoeiras, compra de bebedouros e comedouros, ração, vitaminas e vacinas.
“Temos cinco jovens trabalhadores permanentes e alguns trabalhadores sazonais. Com esta equipa, havemos de conseguir implementar o nosso plano de aumentar a produção. Para nós, produzir 800 frangos significa estarmos a gatinhar. Temos sonhos maiores”, desafiou-se Emília Macule, gestora da empresa.
A PAMEL vai, nos próximos tempos, atacar o mercado de produção de ovos. “Temos cinco capoeiras. Numa, queremos pôr poedeiras. Aliás, a capoeira já está pronta. Só estamos à espera das poedeiras chagarem”, contou a fonte, acrescentando que, para o efeito, deverão ser adquiridos uma máquina de choque e um camião frigorífico, assim como será necessária a conclusão da construção da casa de abate já iniciada pela empresa.
A garantia da saúde dos pintos é um dos desafios da PAMEL, mas que vai se encarando com o passar do tempo. “Não tínhamos experiência, mas fomos ganhando à medida que começamos a criar. Cada dia é para nós um aprendizado. A mortalidade é um dos nossos desafios. Há lotes que vêm com pintos meio fracos e, para estes, precisados de redobrar os cuidados, por exemplo, na temperatura”, contou a fonte, acrescentando que são ainda desafios da empresa a aquisição de vacinas, vitaminas e ração, porque estas só podem ser adquiridos fora do distrito de Homoíne, o que envolve custos de deslocamento.

SDAE sugere investimento na produção de ovos

As autoridades do distrito de Homoíne estão a incentivar as comunidades locais a investirem na criação de poedeiras para a produção de ovos, como alternativa de emprego para geração de renda.
Segundo o director do SDAE de Homoíne, António Sabão, todos os avicultores podem atacar o ramo de produção de ovos. “Este negócio dá certo. Temos hoje seis operadores e uma média mensal de três mil dúzias de ovos produzidos localmente e somos capazes de conseguir muito mais”, disse António Sabão confirmando que os poucos produtores de ovos em Homoíne não estão a conseguir responder à demanda do mercado.
Enquanto não surgem mais produtores de ovo, há os que se destacam neste ramo. No bairro Zucuane, na vila sede de Homoíne, encontramos Arlindo Nhavotso, avicultor que investiu inicialmente 140 mil meticais para atacar o ramo de ovos. “Trabalho aqui há três meses. Dividi a minha capoeira em quatro partes. Tenho 164 galinhas e, por dia, consigo produzir 155 ovos. Os compradores até fazem fila e outros preferem pagar adiantado”, contou o avicultor, acrescentando que está a estudar alternativas para aumentar as quantidades de ovo que vem produzindo.
Arlindo Nhavotso vende 30 ovos a um preço de 260. “Mesmo assim tenho tido aderência e nem sobra sequer um ovo. Não consigo satisfazer a todos. Enquanto isso, vou adaptando-me a novas situações e desafios”, concluiu o avicultor.

Criação de coelhos e garantia da proteína animal

O SDAE de Homoíne olha para a criação de coelhos como um dos ramos que precisam de investimento.
“Incentivamos os criadores a olharem para outras espécies animais, tais como o coelho. O nosso distrito está a registar um avanço significativo na cunicultura. Em termos de efectivos, Homoíne possui um universo de mil e 200 coelhos para um não especificados de criadores, uma vez que a maior parte de criadores o fazem em menor escala e também são potenciais criadores de outras espécies”, justificou António Sabão.
Lustiano dos Santos é um dos poucos criadores de coelho na vila-sede do distrito de Homoíne. “Comecei a produzir do nada. Iniciei com quatro gaiolas e agora tenho 22 e 102 coelhos”
Para aumentar a sua produção, o entrevistado desenhou um projecto que precisaria de um investimento inicial avaliado em 300 mil meticais. “Quero aumentar a minha produção, mas para isso preciso de dinheiro para construir pelo menos 60 gaiolas melhoradas. Destas gaiolas, 50 vão servir para pôr fêmeas e 10 para os machos. Com isso, a minha média de produção mensal seria de 200 coelhos, contando com alimentação adequada”, contou o criador.
Segundo Lustiano dos Santos, o SDAE de Homoíne está a ajudar os produtores de coelho, fornecendo medicamentos necessários para a garantia da saúde dos animais. “Com ajuda do Governo, hoje os coelhinhos não morrem. Primeiro aplico o desparasitante e, três dias depois, dou antibiótico e a própria vitamina. Estas são as três coisas necessárias no princípio. Depois disso, compro outros medicamentos, tais como os de combate à sarna”, explicou Lustiano dos Santos.
A alimentação dos coelhos é um dos desafios do criador. “Para ter uma produtividade eficaz, é necessária uma alimentação adequada. Neste momento, eu só estou a usar alimentação precária, como ervas e farelo. Seria bom que tivéssemos aqui no distrito investidores da área de produção de ração para coelhos”, sugeriu o criador.

Moageiras dinamizam economia de Homoíne

Um conjunto de pequenas empresas moageiras estão a dinamizar a economia do distrito de Homoíne. Para além de criarem oportunidades de emprego para jovens, as moageiras processam ração para os criadores de ovo e frango de corte.
Dados do director do SDAE em Homoíne, António Sabão, indicam que, só no primeiro trimestre do ano em curso, as moageiras empregaram 20 novos trabalhadores, que também se dedicam ao processamento de vários produtos agrícolas das comunidades locais. “O distrito de Homoíne conta com 41 unidades industriais, das quais oito moageiras que vêm transformando milho em farinha, principalmente nas localidades de Manhica, Pembe, Inhamussua e Chinjinguir. As unidades industriais, na sua maioria, empregam população jovem”, disse o director.
Segundo António Sabão, as máquinas chegam a processar, por mês, uma média de 35 toneladas de milho que sai da produção local. “É uma actividade que, para além de gerar renda para os empreendedores dessa área, facilita o serviço de agro-processamento para as comunidades locais, reduzindo o esforço que as comunidades vinham exercendo pelos outros métodos da transformação do milho em farinha”, reforçou Sabão.
Armando Savane, jovem de 27 anos de idade, trabalha no moinho “Humulane va Mamane” desde Abril de 2021. O jovem conta que, durante a época de produção de milho, a empresa consegue gerar uma renda de 40 a 50 mil meticais mensais, mas, em períodos de crise de milho, obtém-se entre 16 e 20 mil meticais por mês. “Uma parte deste valor usamos para a compra de energia, que é cara. Outro constrangimento é quando a máquina de moer avaria. Nessas situações, gastamos, no mínimo, quatro mil meticais para fazer as devidas reparações”, disse Armando Savane.
Outro trabalhador da área da indústria de processamento é Artur Pechisso. No bairro de Maganda, na vila-sede de Homoíne, Artur Alberto dedica-se ao descasque de arroz e à transformação de milho em farinha, assim como de mandioca em tapioca.
“Porque já temos energia eléctrica aqui no bairro, consigo moer pelo menos sete latas por dia. Por causa do aumento da concorrência, estamos a ter complicações na contabilidade. Antes, conseguíamos ganhar 30 mil meticais mensais, mas agora mesmo dez mil é difícil”, lamentou Artur Pechisso.
Cesar Marame é membro da Sociedade Agronegócio CATIMAR, que gere um dos moinhos instalados no bairro Zucuane. A empresa resultou de um estudo, feito em 2021, que concluiu que Homoíne é um distrito com condições agro-ecológicas favoráveis para a produção da matéria-prima para o processamento. “Por ser banhado pelo rio Nhanombe, o distrito proporciona condições suficientes para, por exemplo, a produção de milho em grande escala. Com um investimento inicial de 500 mil meticais, a CATIMAR começou a funcionar em 2021, trazendo soluções para as comunidades locais” – disse Marame acrescentando – “Quando fizemos o estudo, prevíamos uma média de processar 20 latas por dia, porém, neste momento, andamos à volta de oito a 10 latas. Estamos a 50 porcento do que esperávamos quando fizemos o plano inicial”.
Uma lata de milho processada em Homoíne custa actualmente entre 80 e 130 meticais. “Porque há muitos moinhos, os camponeses locais têm a possibilidade de escolher. Com certeza, a proliferação de empresas como estas está a trazer benefícios para as comunidades, igualmente porque vêm aumentando as oportunidades de emprego para jovens”, contou salientou Cesar Marame.
Vânia Chume vive no bairro Maganda e tem o moinho local como referência para o processamento dos seus produtos agrícolas. “No passado, percorremos longas distâncias para moer milho e arroz e em moinhos manuais. Era complicado porque ficávamos com farinha mal moída. Já podemos colher e não andar muito para moer a quantidade que desejarmos”, narrou Vânia Chume.

Governo recomenda “organização” para contornar elevado custo de energia

As máquinas e moinhos são conhecidos pelo alto consumo de energia eléctrica. Os criadores de frango e produtores de avos, bem como das pequenas unidades de processamento de produtos agrícolas em Homoíne olham para o Governo como entidade que pode interceder para a redução de tarifas de energia. Entretanto, o SDAE conta que as taxas de energia dependem do fornecedor nacional.
“O custo de energia não depende muito do Governo distrital. O nosso papel é apelar para que os produtores encontrem alternativas para contornar a situação. Enquanto for possível, os produtores do sector familiar, por exemplo, podem usar outras fontes de energia” – disse António Sabão acrescendo – “Para os gestores das pequenas indústrias, aconselhamos que trabalhem para crescer como unidades de produção, tendo uma infra-estrutura e contabilidade organizadas. Aliás, há no sector agrário, uma legislação que permite que os produtores beneficiem da taxa da redução de energia quando é para produção agrícola, portanto, é preciso que seja uma empresa estruturada com uma contabilidade certa’’, realçou o entrevistado.
A ideia é também sustentada pelo administrador do distrito de Homoíne, Azaria Sengo, segundo o qual os empreendedores devem esforçar-se para aumentar a sua produção. “O assunto das taxas de energia não depende do governo do distrito. As tarifas foram estipuladas no nível central. Quanto mais produzirem e venderem, mais fácil será enfrentar as tarifas”, disse Azaria Sengo.

Homoíne falha meta de electrificação rural

Azaria Sengo, administrador do distrito de Homoíne.

No âmbito da iniciativa presidencial “Energia para todos”, o distrito de Homoíne tinha planificado, em 2021, oitocentas novas ligações de energia eléctrica para a localidade de Golo e bairros 18 de Julho e Zucuane na vila-sede. Entretanto, a realização foi de 450 ligações.
Segundo o administrador de Homoíne, Azaria Sengo, a falha na meta foi ocasionada pela indisponibilidade de material eléctrico. “A empresa contratada para realização deste trabalho não conseguiu em tempo útil fazer o aprovisionamento do material para o efeito da expansão da corrente eléctrica”, justificou o administrador Azaria Sengo.
Para 2022, conforme Azaria Sengo, o distrito planificou uma meta de 900 novas ligações e, até o fim do primeiro trimestre do ano em curso, o plano já havia sido cumprido em 18 porcento. “Pensamos que, até Dezembro, vamos conseguir atingir a meta. Importa informar que há um trabalho que está sendo realizado de expansão de energia para o posto administrativo de Pembe, o único posto sem energia. Já foi feito o trabalho de limpeza nas comunidades onde serão implantados os postes que vão suportar a linha. Brevemente, teremos todos os nossos postos administrativos electrificados, cumprindo assim o plasmado no Programa Quinquenal do Governo 2020-2024”, avançou Azaria Sengo.
Para a fonte, a expansão de energia eléctrica, tanto para Pembe, assim como para outras zonas de Homoíne, vai impulsionar o desenvolvimento no distrito, uma vez que há muitos projectos de jovens que precisam de energia. “Estamos a falar de projectos como processamento de castanha-de-caju. Com energia, pode ser possível instalar fabriquetas de processamento de castanha”, salientou o administrador.

Segurança alimentar garantida em Homoíne

Com terras aráveis para prática de agricultura e pastorícia, o distrito de Homoíne já foi celeiro da província de Inhambane. O milho, o arroz, amendoim, feijão-nhemba, mandioca são produtos que, na maioria, garantem a segurança alimentar e nutricional da população das comunidades rurais.
As precipitações que têm vindo a cair desde Março do presente ano proporcionaram umidade suficiente para desenvolvimento e crescimento das culturas agrícolas e, de acordo com o SDAE de Homoíne, a perspectiva na presente campanha agrária 2021/2022, é de lavrar e semear cerca de 43 mil hectares, garantindo assim a segurança alimentar da população. “Na primeira época, o nosso plano era de 28 mil hectares e, dessa área, lavramos e semeamos cerca de 27 mil, tendo colhido 119 mil toneladas de produtos diversos, o que significa uma realização em 57 porcento. Destacaram-se culturas como milho, mandioca e feijões”, informou António Sabão.
Ainda segundo o director do SDAE, para a segunda época agrária, Homoíne palificou trabalhar 15 mil hectares e a perspectiva é de colher 150 mil toneladas de produtos diversos, com destaque para hortícolas, milho, amendoim e batata-doce.
Para impulsionar a produção agrícola, o SDAE de Homoíne está a esforçar-se na disponibilidade de sementes e aumento de técnicos de extensão agrária. Graças ao programa SUSTENTA, o número de técnicos subiu de 17 para 30. “Distribuímos 25 toneladas de semente diversa em todas as localidades, algo que constitui como grande investimento. Para dar sequência a essa distribuição, os extensionistas estabeleceram campos de demonstração de técnicas de produção. Temos hoje 112 unidades de demonstração” – explicou António Sabão, acrescentando – “Do nível central, o distrito recebeu semente para o efeito de multiplicação, a destacar a estaca de mandioqueira e, felizmente, este ano não tivemos perdas assinaláveis como tem vindo a acontecer. A nossa bacia de Nhanombe comportou-se bem em termos de afluência das águas do rio nas machambas e as precipitações também foram regulares, diferentemente do ano que tivemos um período de muita seca”.
À semelhança da primeira época agrícola, no início da segunda época, o SDAE distribuiu 200 quilogramas de sementes diversas, em parceria com CARE, para além da disponibilização da semente de hortícola, em parceria com a Direcção Provincial de Agricultura e Pesca em Inhambane.
Na presente campanha agrícola, Homoíne está a trabalhar com cerca de 24 mil famílias economicamente activas e nove mil criadores de diferentes animais, dos quais seis mil são criadores do gado bovino, assistidos por 30 técnicos de extensão rural.
Quanto ao efectivo bovino, o distrito de Homoíne conta com 29 mil cabeças, segundo a actualização realizada no arrolamento de 2021, sendo que decorre o arrolamento referente ao presente ano. “A nossa perspectiva é de ver este número a crescer. As condições para o maneio sanitário e produtivo existem e o efectivo está a aumentar a cada ano que passa, graças às condições do pasto, também à assistência que os técnicos do SDAE fazem”, concluiu o director.

 

Texto: Bernardo Litingo
Fotos: Hélio Munguambe